terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Aponte para o amor

Já namorei um (ou mais) Richard Bach. Já estive presente quando o medo foi maior do que o amor. Já vi muralhas imensas isolarem todo tipo de sentimento. Eu estava lá. Ele estava lá, mas estávamos tão sozinhos e tão entediados.
Tenho um pouco de Richard Bach em mim. Procuro a perfeição inexistente. Questiono a vida presente e a passada. Crio teorias sobre coisas sem a menor importância. Sou crente, mística e, ao mesmo tempo, descrente, cética.
Não entendo de finanças, odeio lidar com números e, assim como Richard, acredito que as pessoas criariam mais músicas, mais romances, mais literatura caso não tivessem de lidar com eles.
Meu lado Leslie Parrish fracassou. Minha defesa sobre o amor não alcançou níveis tão profundos, tão convincentes (em qualquer relacionamento). Talvez porque ela não tinha as dúvidas que eu sempre tive (e tenho). Ela sabia, acreditava. Lutou, gritou, falou o que queria. Avisou que era tudo ou nada – e por muitas vezes quase ficou sem nada. Venceu. Não ela, mas seu amor.
Leslie conseguiu provar que contra o amor não há nenhuma força. Nada é maior, nada se faz mais presente. Nada é tão importante. Só ele, esse sentimento puro e falível (como todos). Ele, Richard, acreditou nela. Entendeu e, mais do que isso, a amou profundamente (justamente por sua intensidade e sinceridade). Ele percebeu que a perda o mataria.
“A soma de um e um, se são os certos, pode ser o infinito”, ela diz e comprova que acreditar no amor pode fazer com que a vida seja mais intensa, mais viva, mais feliz. Sim, haverá sofrimento mas será suprimido, amparado e ficará no passado - se houver amor.
O infinito dos dois está nos aviões, rodopiando pelo ar. Está nas músicas de Bach tocadas ao piano. Mas isso, pouco importa (na verdade). Pois tudo pode se tornar realidade se você acreditar e (principalmente) se entregar.

* A Ponte para o Sempre. Richard Bach. Ed. Record.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Ensinamentos de Fernão

Começo esse texto com um pedido de desculpas. Problemas, excesso de trabalho, seguidos pelas férias e a retomada são minhas principais explicações. Sei que não tenho um compromisso burocrático, porém assumi uma coluna e mal consigo manter. Culpo essa vida maluca cheia de contratempos, tristezas e mutações. Paciência.
A verdade é que gente vai crescendo e vai dando uma vontade tremenda de parar e deixar a vida seguir sozinha. Sem esforço e (de preferência) sem complicações ou cansaço. Queremos olhar de fora, como se nem estivéssemos mesmo ali (participando). Tendemos esperar, sem pressa, que algo extraordinário aconteça.
Mas a verdade é que nada deve (ou pode) ser assim. Estamos vivos e isso já basta para que não paremos nunca. Claro que dá preguiça. Assim como tudo na vida. Você termina um relacionamento, conhece outra pessoa e tem preguiça de começar todos os jogos amorosos novamente. Você está insatisfeito no trabalho, mas tem sono quando começa a prestar atenção nos sites de emprego. Assim é a vida, não é?
Não. Ou, pelo menos, não deveria ser. De volta ao mundo da literatura (com muito prazer), leio Fernão Capelo Gaivota. Uma velha leitura (quase) infantil, escrita por um autor que tem um quê de filósofo. De lá vieram vários pensamentos de luta, reação e interesse... uma ave mostra que podemos ser tudo aquilo que quisermos alcançar. Podemos traçar qualquer caminho, desde que não desistamos nunca.
Fernão é apaixonado, intenso. “Supere o espaço e tudo o que nos sobra é o aqui. Supere o tempo, e tudo o que nos sobra é o agora”. Chego a conclusão que, entre o “aqui” e o “agora” muita coisa pode mudar, desde que você queira, deixe, se permita e, principalmente, lute. Sem medo de cair – até porque, cair faz parte da nossa essência. Foi assim que aprendemos a andar... É aprendizado. Superação.

* Fernão Capelo Gaivota. Richard Bach. Ed. Record.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Futebol, Xico e Romantismo

Graças a Tarrafa Literária pude espiar uma figura (que admiro) a falar sobre um assunto que adoro: Xico Sá (é a figura) e futebol (foi o assunto). Dele, ouvi (como sempre) poucas e boas, assim como de seus companheiros de mesa Matthew Shirts e o mediador Vladir Lemos. Juntos, eles nos fizeram entrar em campo – apesar de parecer mais uma discussão de bar - ou seja, coisa boa mesmo.
“Nunca o futebol vai dar certo no Brasil”, profetizou Graciliano Ramos. Errou feio, o pobre. Não só deu certo como virou a mais famosa “paixão nacional”. O futebol faz parte da cultura nacional e não existe nenhum preconceito a respeito. O futebol é o esporte da massa, da garra (essa, as vezes, duvidosa), do grito, do choro e da cantoria.
Por tudo isso é que não precisamos criar histórias sobre o assunto. Pois o assunto em si já faz sua própria história. “Cada um faz uma ficção diferente do mesmo jogo”, afirma Xico (com x) com razão. O futebol é tão fascinante que nem mesmo os torcedores de um único time enxergam o jogo igualmente (principalmente se um vê pela TV, o outro ouve no rádio e o outro está no estádio).
Outra defesa desse santista (torcedor) - com um pé no Icasa e outro no Sport - é a falta de tristeza de alguns torcedores no Brasil. “Acho lindo quando a torcida fica triste, muda. Com as torcidas organizadas não tem tristeza, eles mal vêem o jogo. Sou mais a favor da tristeza, nesse caso, do que a alegria burra”. Pensei bastante nisso. A torcida do Grêmio é linda cantando (inegável), mas a mudez também tem seu charme. Um estádio calado, depois de um gol perdido aos 45 do segundo tempo, mostra o humor de cada torcedor. Unifica todos eles.
A discussão mais boba desses três personagens foi com relação às mulheres e o futebol. Sei que ainda sou exceção. Sei que a maioria não gosta, não liga, não se preocupa com seu time e apenas diz que é torcedora - sem ter a menor ideia qual a classificação do time na tabela.
Por isso, tenho um recado: Meninos, isso não é verdade (ao menos, não absoluta). Tem um monte de mulher por aí (e conheço várias) que gosta de seu time, torce, vai ao estádio e (pasmem) assiste ao Cartão Verde, Troca de Passes, etc. A única coisa realmente certa é que a gente não carrega o sofrimento do jogo por muito tempo. Depois da derrota, aceitamos (facilmente) um beijo, um carinho, mais uma cerveja e aí... passamos a ter certeza de que tudo será melhor no próximo jogo. Esse é nosso romantismo dentro e fora de campo.

* Modos de Macho & Modinhas de Fêmeas. Xico Sá, Ed. Record.

* O dia em que me tornei... Santista. Vladir Lemos, Panda Books.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

História na Tarrafa

“O passado deve ser não um exemplo, mas uma lição”, assim indicou Mário de Andrade, e assim ouvi de Zuenir Ventura em uma das mesas da Tarrafa Literária. Ele, Laurentino Gomes e Jorge Caldeira discutiam mais do que os jornalistas além muros (tema). Discutiam a história do jornalismo, das pessoas, dos escritores, do Brasil – com os erros e os acertos desse “país do futuro”.
Para mim, a frase de Mário serve para tudo na vida, claro. Mas, pensando em história os dois autores, que (segundo Zuenir) pularam a cerca do jornalismo numa espécie de adultério consentido, falaram de coisas marcantes. Assuntos e frases que podemos levar como opinião, crítica e repertório das nossas próprias vidas.
Uma dessas frases veio de Caldeira, quando disse da dificuldade de explicar o que deu certo. “O que dá certo não parece importante”. Ele tem razão. Quantas vezes temos a vida perfeita e nos vimos sem muito assunto? Pense bem. Assim como Vinicius de Moraes precisava do sofrimento de uma paixão incontrolável para viver (e escrever), talvez precisemos de um problema para contar. Quando a vida está boa (particular), falamos mal do chefe (sendo que ele nem é tão mau assim), do salário (que possibilitou a viagem do ano passado), do namorado (que mandou flores) e, claro, do Brasil (esse, sem parênteses).
Já Laurentino deu um grande tema de bar falando da existência, quando avisou que no túmulo da Marquesa de Santos diz algo como: “Se você veio aqui para me julgar, melhor que não venha. Se veio rezar minha alma, seja bem-vindo”. 200 anos depois a mulher se defende e ataca quem ela nem conheceu em vida. Isso mostra que os seres humanos são mesmo complicados. Estamos em busca da perfeição (ou da razão disso tudo), mas não queremos ser questionados jamais.
Assistindo aquela discussão toda, cheguei a duas conclusões. A primeira de que o jornalismo é mesmo uma profissão diferenciada. Profissionais que conseguem (ou deveriam conseguir) se colocar no lugar dos outros (simplesmente porque somos todos ‘outros’). A segunda é que como brasileiros erramos. Estamos há 400 anos votando mal, elegendo gente ruim –disse Caldeira - e não aprendemos lição nenhuma com isso (o que nos faz voltar e refletir sobre a frase de Mário).
Para concluir, Zuenir saca a frase de gênio: “Na história do Brasil só 10% é mentira, o resto é invenção”. Concordo e complemento: se a gente for esperto, é possível fazer o mesmo com a nossa própria história (talvez assim ela fique mais interessante).


*1808. Laurentino Gomes, Ed. Planeta do Brasil.

* Maua- O empresário do Império. Jorge Caldeira, Cia das Letras.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O amanhã virou história

Amanhã não terá água. Amanhã o lixo vai nos sufocar. Não vai mais ter árvore na Amazônia. Então, o que nos resta é viver como se não houvesse amanhã, diriam alguns. Talvez seja mesmo verdade, considerando todo o pessimismo na criação de novas gerações.
O que aconteceu com o amanhã? O amanhã acabou? Virou mesmo lenda? Creio que foi vencido pelo imediatismo. Uma pena. Sinto falta da esperança que eu reservava para o amanhã.
Sempre deixava para amanhã o que hoje seria uma bobagem fazer e, agora, não há mais esse tempo. Julgava que amanhã poderia esperar um melhor salário, um grande amor, a viagem dos sonhos... fora (claro) os políticos honestos, um Brasil melhor. Agora, queremos o sol, porém rezamos para que ele não derreta mais nada, enquanto ficamos embaixo de uma sombra qualquer.
A esperança morreu? O que aconteceu com os jovens? A geração passada lutou contra ditadura. A minha pintou a cara e saiu nas ruas. A nova reelegeu o mesmo cara que tiramos do poder e nada consegue fazer contra sarneys da vida e todos os seus genros (seja lá quantos aparecerem). Não os culpo. Afinal, se o amanhã não existe, pra que se abalar? Vamos todos nos preocupar com nossas próprias (e já complicadas) vidas.
O romantismo, idealismo e outros tantos ismos estão em baixa. Infelizmente, muitos deles ainda se explodem em algum lugar do mundo. Mas por aqui (no ocidente) não há muito o que fazer. Nos perdemos em nós mesmos. Apostamos nossas fichas em mudança, mas pouco se viu.
Não levanto bandeira política nenhuma. Aliás, se conseguisse, seria anarquista (mas uma força maior me faz votar). Zuenir me fez ver que a paixão de 68 tem muito a ver com a personalidade de toda uma geração. Uma paixão que hoje não existe pelo simples fato de que não cabe mais. Não faz mais parte do nosso repertório. Não está na nossa veia. Não tem mais cadência no nosso samba. Não tem censura. E, assim, o sonho do amanhã virou história. Virou livro. Somente isso.

*1968 - O que fizemos de Nós. Zuenir Ventura, Ed. Planeta.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Acredite

Será que o amor está fadado a tristeza? Amar é sofrer? No dicionário essas não são palavras sinônimas (definitivamente). Na teoria o amor deveria vir entre sorrisos, felicidade, mãos dadas, pé na areia no final do dia, olhares cúmplices e beijos. Muitos beijos.
Mas não é assim. Para muitos autores, a paixão vem (sempre) acompanhada de lágrimas. E, pior, o ser apaixonado parece até gostar do sentimento ruim. A depressão, o choro contido, a espera ingrata está em toda angústia de quem ama. Que horror!
De verdade, histórias como Tristão e Isolda ou mesmo Romeo e Julieta são lindas nos livros, no cinema, nos palcos. Na vida real, não queremos nada daquilo. Nem o final trágico (principalmente), nem a vida como mocinhos tristes, esperando em sacadas ou atormentados pela família. Não dá.
Escrever sobre o amor virou uma infinidade de palavras dolorosas, profundas e cheias de peso. Em todo romance que se preze a gente chora. Emoção (sim) tem relação com amor (claro), mas será que apenas (e somente) sofrimento?
O ceticismo nos deixou tão cegos e sóbrios, que nos tornou também burros. A idade tem feito com que tenhamos a péssima mania de não acreditar mais em finais felizes. Começamos histórias sabendo que vão terminar - até esperamos por isso a qualquer minuto. Sim, sei que já escrevi sobre o fatalismo do fim, mas será mesmo que devemos pensar sempre assim?
O otimismo não deveria estar embutido no discurso de quem ama? Afinal, existem casais que nasceram uns para os outros, não? Poucos, é verdade. Raros? Sem dúvida. Mas, existem. São casais que amam e dançam juntos há mais de 15, 30, 45 anos e não se imaginam sem sua cara metade.
Se conseguirmos tirar a pedra que carregamos em nossos pés ou as amarras que vez ou outra prendem nosso grito de fuga, conseguiremos também acreditar. Acreditar que o amor pode durar. Que pode se aperfeiçoar ao longo do tempo e fazer com que nossos corações rejuvenesçam, cresçam e aprendam outro tipo de beleza: a eternidade.

* Romance de Tristão e Isolda. Joseph Bedier, WMF Martins Fontes.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Cuide-se

O fim é tão fatalista. Na verdade está implícito (ou explícito, até) em qualquer começo. Com o perdão do uso (inapropriado) do título de Gabo, o fim é como “uma morte anunciada” desde o princípio. Mas, mesmo assim, ninguém espera por ele.
Todos morreremos. Triste? Sim. Fato? Sem dúvida. No entanto, ninguém espera pela morte. A gente simplesmente vive. Esquece que um dia tudo isso acaba. O mesmo acontece em relacionamentos amorosos. O fim está lá, mas ninguém vai pensar nele. Claro que não (e ainda bem).
Com sorte (tremenda) o término pode acontecer pela morte de um dos apaixonados - quando estiver bem velhinho (sem nenhuma morbidez). No entanto, o comum é que ocorra a morte figurada mesmo. Sim, porque o fim de um relacionamento é como uma morte em vida. Mas o que quero ressaltar aqui é a falta de cuidado do fim
.
Isso está explícito em todos os términos (quando ambos estão vivos, claro). No final, ninguém tem a preocupação (real) de dedicar alguns parênteses de cuidado no discurso, na mala, na entrega da chave, no bater da porta.
O choro não expressa cuidado. Pode ter (sim) o significado de culpa de um por deixar o outro, a incompatibilidade mútua, a vontade contida de dizer algo que não é possível traduzir em palavras. Mas não é cuidado. Definitivamente. Cuidar é outra história.
Em geral, as pessoas demonstram esse sentimento ao terminar as cartas, emails, bilhetes... Quando antes acabavam com “eu te amo”, a última notificação por escrito segue com o lacônico “cuide-se”. Querendo dizer: A partir de agora você deve se cuidar sozinha(o). E você pensa: Ok, obrigado pela dica (?).
Veja como exemplo o caso da artista plástica Sophie Calle que ganhou o mundo pelas bem traçadas linhas do email que recebeu do então namorado escritor. O fim teve o famoso “cuide-se” ou prenez soin de vous (fica mais bonito).
É claro que os finais sempre vão existir. E é claro que ninguém imagina um jeito bacana disso acontecer. Sempre será complicado, difícil, arrasador. Quem toma a decisão, em geral, é o monstro da relação - quando na verdade está tentando viver melhor. Somos seres difíceis, tentando entender um mundo sem muito sentido. Chegaremos aos 90 (com sorte) ainda sem ter a menor ideia (tenho certeza). Mas cuidar é entender que uma mensagem final não apaga o fim. Encare. Converse. Chore (se preciso for). Não aconselhe. Deixe que cada um cuide de si. Afinal, ninguém precisa dessa indicação para tal. Somos bem grandinhos (ao menos, teoricamente), não?

*O Convidado Surpresa. Grégoire Bouillier, Ed. Cosac Naify.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Mentir e rir (disso)

Quem nunca ouviu, ou disse, mentiras atire a primeira pedra no próprio telhado de vidro. Homens e mulheres têm essa capacidade. Dizem, na verdade, que a partir dos 4 anos de idade passamos a mentir. Enganamos os pais e uns aos outros com facilidade. Ou seja, somos mentirosos por natureza. Deve haver algum gene embutido no nosso DNA (imagino).
Mas, assim como toda (boa?) genética, alguns são piores que outros. E esses deveriam ser apedrejados em praça pública (dependendo do teor da mentira, claro).
Sou contra mentiras, a favor da omissão. Não gostou, não diga. Pra que magoar? Mas muitos (em geral mulheres, sejamos sinceros) adoram dizer que a pessoa está magra, quando na verdade nunca a viu tão gorda; ou quando a roupa é horrível, mas achou “deslumbrante” (em tom de ironia). Muitas fazem isso (quem nunca viu?). Aí, quando a outra vira as costas, a maldosa comenta com a amiga: “nossa, ela colocou tudo que tinha no armário e saiu sem checar o espelho”. Pronto. Falsidade de quinta.
Sim, mas homens não são tão diferentes. Quando mentem atrapalham (muitas vezes) a nossa vida, porque – em geral – as mentiras são para nos enganar... As mentiras que os homens contam afetam o sentimento de muitas mulheres. Peço desculpas pelo ceticismo, preconceito ou como queiram chamar. Mas, realmente, acredito nisso.
Vamos aos exemplos práticos: paquerando uma mulher um homem é capaz de dizer as coisas mais fabulosas, quando na verdade só quer ir para cama com ela e (em geral, veja bem) não ligará no dia seguinte. Outro exemplo: tendo um caso com outra (dentro do casamento), ele leva presentinho (no pejorativo mesmo) e chocolates para sua mulher fazendo juras de amor, enquanto dá jóias para a amante. Mais? Quando namora diz que ama, leva para um final de semana lindo na praia e na segunda-feira diz que não consegue mais viver assim.
Claro que existem aqueles que dizem a verdade. Que amam de verdade. Mas quando mentem, podem ser (quase) profissionais da área. Mulheres (em relacionamentos) podem fazer o mesmo, claro. Mas (além do charme) temos uma ética diferente: assumimos, choramos, gritamos (em geral, claro).
Ah! Os seres humanos... tão incríveis a primeira vista e tão comuns no quarto mês. Somos assim. O jeito é lidar com isso e rir. Afinal, é para ser feliz que estamos aqui, certo?

* As Mentiras que os Homens Contam. Luis Fernando Veríssimo. Ed. Objetiva.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Recomeço

O recomeço não tem idade. Viver uma história de amor (mesmo que platônica) pode trazer uma sensação inigualável. Cheiro de novo, frio na barriga, um sorriso contido, aquele olhar meio de lado, aquele beijo, a lágrima (seja de tristeza ou alegria)... É a adolescência que nos ataca como um vírus potente, que não nos deixa de cama, mas febril.
Assim como uma gripe, você sabe bem o que te espera. Conhece todos os jogos iniciais, a troca de carinho, a futura cumplicidade (se sorte tiver), a amizade, o calor (sentido no olhar), os cafés da manhã e o inevitável fim.
Nessa paixão (mútua ou não) a única consequência certa e crucial chama-se renovação. Quando todas as nossas células se entregam a esse vírus que não determina idade, apenas pretende provar como amar é importante.
Pode-se ter 30, 50, 70 ou 80 anos. Ninguém é velho demais para passar por isso, nem bobo demais para sofrer por isso. A relevância da vida (mesmo soando presunçoso) está nas mãos dadas, no bate papo íntimo e nas coisas mais simples como um perfume, uma roupa especial, um toque...
Romântico demais? Pode ser, mas isso é ruim? Por que será que depois de uma certa idade esquecemos como é bom viver um romance de verdade? Será que a vida não faz mais sentido quando isso acontece? Será que não nos sentiríamos mais vivos assim?
Não sei. Talvez tudo isso seja bobagem, um devaneio qualquer de um dia frio. Mas talvez (talvez, repito) não. Talvez em algum momento perdido (no tempo e no espaço) você deixou de reparar na mesa do lado; deixou de perceber quem está na cozinha de casa (tão perto); deixou de convidar aquela pessoa para sair... e aí, pode ter perdido a grande oportunidade de rejuvenescer e de amar.

* Milamor. Lívia Garcia-Roza. Ed. Record.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Teatro Futebolístico

Em uma época não muito distante teve gente que viu o melhor do futebol nacional. Peço perdão aos não-santistas (apesar de achar uma pena), mas não há torcedor (de qualquer time) que tenha visto Pelé e passado impune por isso. A Vila (mais famosa do mundo) foi o palco desse teatro futebolístico. Lugar que fez com que muitas dessas pessoas mudassem a forma de ver o mundo (ou talvez de ver o futebol).
Uma dessas pessoas, inclusive, me mostrou, com orgulho, a folha de jornal velha em que há o registro da primeira bandeira hasteada na Vila Belmiro. Feita por ele e um amigo (na época, adolescentes), me contou que não precisaram de quase nada – só uma grande ideia - além do pano branco no quintal, tinta preta e amor pela camisa alvinegra. Outros tempos? Nem tanto.
Hoje, o glamour do futebol terminou – a não ser pelos grandiosos salários. Jogadores se enrolam entre a vida social, a bebida, a igreja e os campos. Enquanto, ontem, muitos trabalhavam em outros lugares pela dificuldade de se viver somente da bola (como me disse, certa vez, Gilmar dos Santos Neves), nada mais funciona assim.
Porém, tem uma coisa que nunca muda, porque está acima disso tudo: os torcedores. Esses sim intensos, fervorosos... talvez, um pouco mais briguentos (com o passar dos anos), mas com a mesma paixão (e sem ganhar nenhum milhão).
É a democracia da bola. O amor por ela. A falta de vergonha. O choro. O riso. Tudo no mesmo campo e na presença (cruel) de um adversário. Na carga pesada dos clássicos. Na angústia de saber que é preciso ganhar para passar. Ganhar para chegar lá... em Tóquio ou em Dubai (seja lá para onde se vai).
Times, hoje, ganham mais do que personagens. Ganham filmes, livros, histórias. Seja o Jabaquara (grandes espanhóis), o Santos, o Corinthians, o Grêmio ou tantos outros... Vale tudo para contar a luta, a batalha, a queda, a superação e o jogo.
Devo lembrar que nem todos eles tiveram Pelé (essa é uma sorte de poucos). Mas todos têm (até hoje) algo que só o futebol pode fazer: a mobilização da massa. A torcida está em todos os lugares. Campos, de frente a TV, ouvindo rádio ou a internet.
Nós (torcedores) estamos até onde nossa paixão nos permite ir. Até onde podemos gritar (atrocidades que me recuso a divulgar aqui), pagar, passar mal e xingar aqueles milionários pernas de pau!
E assim vivemos. Sem Pelé. Sem Garrincha. Sem Coutinho ou Tostão. Mas... cheios de histórias e títulos para contar e (quem sabe?) ainda chegar.

* Veneno Remédio: O futebol e o Brasil. José Miguel Wisnik. Cia. das Letras.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Em tempo algum

O que dizer depois que o final já passou? Como agir quando não há quase nada a dizer? Como falar quando são tantos assuntos? Como fingir que tudo o que aconteceu foi uma bobagem antiga e superficial, quando por dentro você ainda lembra (em detalhes) toda a agonia que sentiu?
Depois que uma relação termina todo o amor que ora queimava, vira desamor. Todo o carinho se transforma em crueldade. Toda verdade é uma grande mentira. Em geral, é assim. Dificilmente vivemos términos suaves. Sem brigas, nem mágoas. Alguém sempre sai mal na história. Assim deve ser o fim, não? Senão, talvez fosse o começo.
O fim do amor é como uma morte anunciada por uma das partes (ou das duas). A partir daquele dia, você não tem mais nenhuma obrigação (nem mesmo moral) de saber da família ou dos amigos do outro. Assim como não precisa mais saber do outro. Aliás, você nem deve saber deles (não vai ser bom pra você). É a morte do amor. Tão importante que deveria ter velório, cortejo, enterro – sim, porque o luto já existe.
Aí, o tempo vai passando e você vai bloqueando histórias na sua memória. Com os anos você nem se esforça mais para lembrar – apesar de saber que estão todas ali. Algum lugar no seu cérebro guarda aquela caixa amarrada com uma fita vermelha.
Quando você acredita ter superado, alguém erra o caminho e para a sua frente. No primeiro momento, frieza e gentileza forçada. Depois, um derrame de verdades cruéis jogadas no chão desastrosamente. Em seguida, a raiva contida. E o suicídio (do amor, claro).
Mas a verdade (de cada um) está apenas no pensamento. Ninguém sabe. Ninguém entende. Ninguém ousa falar. O motivo do encontro pode ter sido armado, pode ser por um acaso do destino. Pode estar escrito em algum lugar que não se vê ou lê... Mas eles estão ali. Como ignorar?
No amor não há regra. Não há razão. Não há como negociar nada. Ou se ama, ou não. Ou se está junto, ou não. Se morre e se mata a partir de motivos imbecis e sem sentido. No amor, isso é viver.
Assim é o para sempre de qualquer relação. Mesmo que o para sempre não exista jamais, em tempo algum.

* Eu sei que vou te amar. Arnaldo Jabor. Ed. Objetiva.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Gullar me espanta

Para ser poeta é preciso enxergar mais longe (ou seria mais profundo?). “A poesia surge do espanto”, disse Ferreira Gullar. Tem mais coisa aí. A poesia de Gullar vem da alma, não sei. Como ateu, ele discordaria. Mas acredito mesmo que ele veja mais do que vemos. Sinta mais do que sentimos. Ou, descreve tudo isso com tanta clareza que realmente espanta.
Esse deve ser o grande sofrimento de um poeta. Viver como uma ferida aberta, exposta ao vento, ao frio, ao quente, ao calor... Ter a fixação pela paixão e pelo fim dela, como Vinícius. O poeta traduz a dor, o amor, a vida e a morte. Revela sentidos. Abre caminhos. Enxerga o coração.
O poeta indica e escreve sobre as escolhas de uma vida. Ser feliz ou ser triste. Você constrói. Você decide. Você é quem sabe. E eu me pergunto: como? Posso fazer como ele e dizer que “talvez eu nasça amanhã”. Sem escolhas. Sem expectativas. Sem sentido.
Precisa de sentido? Para quê exatamente? Descobri a poesia recentemente (confesso) e passei a acreditar que ela é a literatura que define a vida (primeiro do poeta, depois do leitor, como diria o próprio Gullar). Define nossas escolhas (burras, em geral). Nosso choro, nossa preguiça, nossos desejos. O poema pode nos traduzir (ou não, claro).
O poema é como um gatilho. Quando (sinceramente) disparado pode transformar nossas vidas, nos matar ou ainda (o que é bem mais provável) fazer com que nos perguntemos: por que nunca parei para ler isso antes? E é como me sinto nos últimos meses.
Assim é a poesia. Melhor: assim é (na minha opinião) a poesia de Ferreira Gullar.

* Poesia Completa, Teatro e Prosa. Ferreira Gullar. Ed. Nova Aguilar

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Pacto com a solidão

A velhice, nada mais é, do que um pacto solene com a solidão (ou algo assim), afirmou Gabriel Garcia Marquez em algum de seus personagens fantásticos. Não concordo. Acredito que somos solitários desde o momento que cortam nosso cordão umbilical. A partir dali a conexão (literal) com o “outro” termina. Porém, não deixa de ser uma bela frase.
A solidão é uma palavra pesada. De repente, tem uma carga desnecessária. Ninguém é solitário porque quer – parece. Será? A verdade (ao menos, a minha), é que todos nós somos solitários ao longo da vida. E, se nos esquecemos disso, talvez (talvez, repito) nunca encontremos a felicidade de estar junto com outro alguém.
Nossas resoluções, problemas, soluções e determinações são também solitárias. Pense bem. Não nos importam conselhos ou sugestões, pois faremos somente aquilo que quisermos e que nossa consciência permitir.
Pode-se pegar como exemplo Úrsula Iguarán. Viveu 100 e alguns anos lutando em prol da família e, principalmente, dos homens de sua família. Anos e anos carregando toda a responsabilidade de sua eterna solidão. Enquanto todos surtavam a sua volta, divagavam passando horas em laboratórios, ouvindo ciganos e tendo filhos; ela ganhou dinheiro, criou os filhos, criou os filhos dos filhos, os netos dos filhos. Úrsula foi 'só' desde sempre e foi feliz assim.
Acredito que é necessário aprender com a solidão. Ela pode ser a fórmula de sabedoria para as boas relações. Primeiro, é preciso se entender como indivíduo para, só então, reconhecer e aceitar o outro (quem quer que seja “o outro”).
Devemos nos reconhecer no espelho mental. Somente assim, sem nenhuma culpa, poderemos amarrar nossos maridos em árvores (quando loucos estiverem) ou ainda discutir com autoridades armadas sem medo de morrer.
A partir desse momento, podemos esperar pelo cortejo do nosso próprio enterro, sentados à porta de casa. Sozinhos (ou não). Mas, certamente, felizes.

* Cem Anos de Solidão. Gabriel Garcia Marquez. Ed. Record.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Guerra sem estratégia

Ela era linda, sexy e problemática. Ele era lindo, inteligente e egocêntrico (como tantos, eu diria). O que era diferente nesse relacionamento? Ele estava para virar o presidente do país mais importante do mundo. Ela seria a loira mais lembrada da história (durante todas as décadas que viriam a seguir).
Os dois, hoje mortos, viveram um romance tórrido e triste. Um Romeu e Julieta às avessas, em que intrigas, investigações e espionagem rondavam suas vidas.
Kennedy era um homem charmoso e poderoso demais para passar sem deixar marcas. Encantou tanto que acabou morto injustamente. Tinha uma mulher linda, mas nutria a paixão pela loira de saia rodada. Quem poderia culpá-lo?
Marilyn tinha problemas. Ninfomaníaca, usuária de drogas... nada de bom nisso. Mas era também uma mulher apaixonada, como tantas que conhecemos. Nesse quesito, ela vira uma mulher comum – tirando o fato de ter tido coragem suficiente para cantar “parabéns a você”, com voz rouca e sensual, ao presidente dos Estados Unidos.
Sua dedicação e amor por um homem que não lhe deu nada – ou quase nada – era infinita. Mas, assim como ela, as mulheres têm essa particularidade. Temos essa ânsia de querer mais, de achar que merecemos mais e, ao mesmo tempo, acreditarmos (piamente) que podemos nos moldar àqueles que amamos – ou tentar moldá-los (a pior opção). O fato é que lutamos com isso (e por isso).
Somos incansáveis lutadoras. Lutamos contra eles (ou seria a favor?) e contra nós mesmas. Numa tentativa inútil de provar que é possível ser feliz com o outro, mesmo que não seja perfeito. Afinal, quem é perfeito? Ninguém, certo? Então, por que não lutar?
Pensamento não muito esperto, eu diria. Porque, em geral, perdemos. A guerra, no amor, não é tão estratégica e esquemática como a guerra dos homens – com armas, ataques e tanques. A nossa guerra é sentimental e problemática – assim como Marilyn.
Podemos não ser tão sexys ou lindas como ela foi, mas somos bem parecidas. Buscamos ganhar essa guerra usando apenas uma tática: amor. Por conta disso, perdemos a inteligência, a praticidade (que é típica masculina, mas seria bom ter um pouco, não?). Perdemos a noção. Mas, tentamos. Isso, ninguém vai negar. Tentamos de todos os jeitos. Insistimos, suplicamos e amamos, incondicionalmente.
Marilyn amou. Errou. Perdeu. Mas, assim como todas as mulheres do mundo, ela – ao menos – tentou.

* Marilyn e JFK. François Forestier. Ed. Objetiva.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Adulto (com "a" maiúsculo)

“Por você, faria isso mil vezes”. Para quantas pessoas você diria essa frase? Para quantas ela seria, realmente, sincera e honesta? Pense bem.
Respondo por você: Ninguém. Ou, quase ninguém (sendo mais otimista). Amamos sim, claro (e graças a Deus, até). Mas, com tanta inocência – como a declarada na frase -, já não tenho tanta certeza. Quem pode nos culpar? Ultrapassamos a idade da pureza (inclusive de sentimentos). Somos Adultos (com “a” maiúsculo). Temos certeza de muitas coisas, mesmo sem saber de quase nada. E, por isso, nos esquecemos de alguns valores e sentimentos muito superiores.
Claro, há quem se lembre deles. Na verdade, se você se esforçar um pouquinho, vai lembrar também. Daquele amigo de todas as horas de bola, bicicleta ou boneca. Daqueles segredos da adolescência pra quem você confidenciou tantas coisas. Para ele, sim, você faria mil vezes a mesma coisa. Simplesmente porque, naquele momento da sua história, faria muito sentido.
Crescemos. As histórias mudam. Os amigos de infância (muitas vezes e infelizmente) são agora adoráveis lembranças. Ou, quando mais presentes (felizmente), passam a ter defeitos assim como nós (vejam só, quem diria?). Não, não somos perfeitos. Erramos muito. Mas, também nos arrependemos, e juramos tentar acertar em uma próxima.
É na vida adulta que descobrimos como o mundo é complicado. Analisamos valores e julgamos pessoas (muitas vezes mal). Sabemos que não existe inocência alguma nisso. Perdemos essa essência de aroma tão doce, para amargar em uma nova mistura, talvez mais cítrica e amadeirada.
Mas, existe um jeito (deve existir, espero). Um jeito de conseguir fazer com que o valor de uma amizade (entre pais, filhos, irmãos, namorados... amigos) ultrapasse essas barreiras e volte à inocência. E aí, sim, veremos que é possível fazer tudo por alguém. Quantas vezes forem necessárias. Nesse momento, seremos livres e belos como uma pipa colorida no céu azul.

*O Caçador de Pipas. Khaled Hosseini. Ediouro Publicações.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Quem quer ser Woody Allen?

Você já se perguntou como faria para chegar à padaria da esquina? O ideal seria seguir em frente, certo? Depende. Se você pensar como Woody Allen, pode virar para o lado contrário e passar (antes) pela melhor livraria da cidade; pode ainda atravessar, pegar a outra rua para passar em frente a um café charmoso; ou desistir do pãozinho já que, afinal, está super atrasado para um compromisso que havia esquecido completamente.
Ele é assim. Precisou aprender a ler para ficar com mulheres. Precisou subir nos palcos para descobrir que sabia fazer rir. Precisou assistir Bergman para reconhecer que nunca chegaria ao existencialismo do cineasta sueco.
Será mesmo? Seus personagens são mais do que existenciais. São angustiados, atormentados e neuróticos, sempre. A diferença é que essa neurose dele (Woody) é descrita nos filmes com muito humor.
Falamos, aqui, do artista e não o homem (de personalidade duvidosa). O roteirista brilhante, o cineasta sensacional e o ator medíocre (no sentido literal da palavra). Suas histórias transformam atores em “aqueles que já trabalharam em um filme do Woody Allen” – quase um título. Quando o próprio está na tela, representa nada mais, nada menos do que ele mesmo.
Usa conflitos psicológicos como tema. Como uma mulher que quer casar, mas pretende manter seu apartamento de solteira como símbolo psicológico de sua independência (qualquer semelhança é mera coincidência). Segundo Sr. Allen é isso que “nos ajuda a entender as pessoas”. Foi assim que surgiu Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, em 1977. Genial.
Personagens falantes e problemáticos, que têm a insatisfação crônica como doença (Vicky Cristina Barcelona, 2008), simplesmente por acreditarem que podem (e devem) questionar tudo e todos.
Roteiros complexos vindos de uma cabeça perturbada. Woody Allen é mais ou menos como aquela antiga propaganda de bolacha. Genial por ser neurótico? Ou neurótico por ser genial?
Quem é que sabe? É brilhante e pronto. Já vale! Quer dizer... desde que não adote ninguém no meio do caminho (quanta maldade).

* Conversas com Woody Allen. Eric Lax. Editora Cosac Naify.

terça-feira, 17 de março de 2009

Toda mulher é meio Leila Diniz

Os anos 70 se foram, mas uma personagem (entre tantas) se eternizou. Uma mulher que queria (somente) tudo o que ainda queremos e, assim como nos dias de hoje, descobriu como era difícil ser Leila.
Sua busca pela liberdade de expressão, pela quebra de tabus sociais, pelo amor livre, pelo casamento, pelos filhos e por todas as contradições que isso tudo pode causar. Somos assim... complicadas. Somos meio Leila Diniz, diria Rita Lee.
Ela afirmava que as mulheres querem e não querem ser independentes. Tinha razão. Somos seres contraditórios (e daí?). Queremos todo o cuidado depositado em uma peça frágil, assim como buscamos a diversão e os perigos da vida - tudo isso com a mesma intensidade, claro.
Buscamos a independência financeira, mas (às vezes) desejamos a morte daquelas que queimaram seus sutiãs (quem concordou com aquilo?). Queremos um amor verdadeiro, que nos ajude a apagar as chamas (caso haja um incêndio), mas que também saiba que, sem ele, apagaríamos de qualquer jeito. Queremos véu, grinalda, casa cheia de gente, carinho em abundância e espaço suficiente para sair sozinhas (ou com os amigos) sem dramas.
Assim como ela, sabemos que o amor depende apenas da gente. E que, para dar certo é preciso cuidar. Mas, queremos mais. Sempre. Mais amor, mais assunto, mais conversa, mais compreensão, mais risadas, mais encontros, mais beijos, mais, mais, mais...
Somos mesmo complexas. Simplesmente porque, como Leila, acreditamos na intensidade dos sentimentos, nos momentos de felicidade e, principalmente, na liberdade de poder ser (e desejar) tudo aquilo que quisermos - mesmo com todos os questionamentos do mundo.


* Leila Diniz: Uma revolução na praia. Joaquim Ferreira dos Santos. Ed. Companhia das Letras.

terça-feira, 3 de março de 2009

Um pouco de tudo

Difícil descrever quem você é. Temos a ligeira impressão de que, assim como faltam palavras, faltam ações. De repente é possível perceber que poderíamos ter feito mais coisas e, no mesmo momento, se admirar pelo tanto que já fizemos.
Para encurtar essa história: sou roteirista e jornalista (ou seria jornalista e roteirista? Não sei mais). Trabalhei em televisão por sete anos – mas tive minha fase como assessora de imprensa, repórter de jornal e fotógrafa nas horas que me sobravam (poucas, confesso). Hoje, trabalho em uma produtora independente criando conteúdo para televisão. Escrevo projetos, curtas-metragens e ainda pesquiso um longa (com longa distância - talvez nem tanto).
Já trabalhei (e trabalho) com grandes marcas, assim como grandes canais de TV. Bons exemplos são: Nokia, J&J, Audi, Visa, Coca-Cola e ainda Multishow, GNT, Fashion TV, STV (hoje SescTV) e Band.
Por acreditar no Brasil (ou ao menos tentar) tenho um projeto incentivado (e a procura de patrocinador) chamado MPB – Mulher Popular Brasileira. Uma série de documentários para TV, que fala das mulheres cantadas pela música popular.
Tive ainda um primeiro-quase-livro (digamos assim) que contava a história do Jabaquara Atlético Clube, o Jabuca. Querido por santistas e tão distante da nova realidade do futebol atual.
Mantenho também outro blog (além desse) chamado Outro Ser (outroser.blogspot.com) – homenagem à música Papel Machê, de João Bosco. Nele, escrevo bobagens (mais algumas) da vida com pensamentos, contos, crônicas e irritações sobre o cotidiano.
Mas aqui, o perfil é diferente. Vou escrever semanalmente sobre o relacionamento humano e os dramas psicológicos citados nos livros. Discutir a literatura de forma humanizada. Não é meu papel criticar obras (para o bem ou para o mal) ou apontar best sellers. Quero falar sobre seus temas, sua idéias, seus personagens, sem nenhuma relação com a qualidade do livro (e peço minha licença poética para tal).
Espero que vocês acompanhem e opinem. Afinal, nada melhor do que trocar opiniões mesmo – e principalmente – se contrárias.