terça-feira, 8 de setembro de 2009

História na Tarrafa

“O passado deve ser não um exemplo, mas uma lição”, assim indicou Mário de Andrade, e assim ouvi de Zuenir Ventura em uma das mesas da Tarrafa Literária. Ele, Laurentino Gomes e Jorge Caldeira discutiam mais do que os jornalistas além muros (tema). Discutiam a história do jornalismo, das pessoas, dos escritores, do Brasil – com os erros e os acertos desse “país do futuro”.
Para mim, a frase de Mário serve para tudo na vida, claro. Mas, pensando em história os dois autores, que (segundo Zuenir) pularam a cerca do jornalismo numa espécie de adultério consentido, falaram de coisas marcantes. Assuntos e frases que podemos levar como opinião, crítica e repertório das nossas próprias vidas.
Uma dessas frases veio de Caldeira, quando disse da dificuldade de explicar o que deu certo. “O que dá certo não parece importante”. Ele tem razão. Quantas vezes temos a vida perfeita e nos vimos sem muito assunto? Pense bem. Assim como Vinicius de Moraes precisava do sofrimento de uma paixão incontrolável para viver (e escrever), talvez precisemos de um problema para contar. Quando a vida está boa (particular), falamos mal do chefe (sendo que ele nem é tão mau assim), do salário (que possibilitou a viagem do ano passado), do namorado (que mandou flores) e, claro, do Brasil (esse, sem parênteses).
Já Laurentino deu um grande tema de bar falando da existência, quando avisou que no túmulo da Marquesa de Santos diz algo como: “Se você veio aqui para me julgar, melhor que não venha. Se veio rezar minha alma, seja bem-vindo”. 200 anos depois a mulher se defende e ataca quem ela nem conheceu em vida. Isso mostra que os seres humanos são mesmo complicados. Estamos em busca da perfeição (ou da razão disso tudo), mas não queremos ser questionados jamais.
Assistindo aquela discussão toda, cheguei a duas conclusões. A primeira de que o jornalismo é mesmo uma profissão diferenciada. Profissionais que conseguem (ou deveriam conseguir) se colocar no lugar dos outros (simplesmente porque somos todos ‘outros’). A segunda é que como brasileiros erramos. Estamos há 400 anos votando mal, elegendo gente ruim –disse Caldeira - e não aprendemos lição nenhuma com isso (o que nos faz voltar e refletir sobre a frase de Mário).
Para concluir, Zuenir saca a frase de gênio: “Na história do Brasil só 10% é mentira, o resto é invenção”. Concordo e complemento: se a gente for esperto, é possível fazer o mesmo com a nossa própria história (talvez assim ela fique mais interessante).


*1808. Laurentino Gomes, Ed. Planeta do Brasil.

* Maua- O empresário do Império. Jorge Caldeira, Cia das Letras.

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