sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O amanhã virou história

Amanhã não terá água. Amanhã o lixo vai nos sufocar. Não vai mais ter árvore na Amazônia. Então, o que nos resta é viver como se não houvesse amanhã, diriam alguns. Talvez seja mesmo verdade, considerando todo o pessimismo na criação de novas gerações.
O que aconteceu com o amanhã? O amanhã acabou? Virou mesmo lenda? Creio que foi vencido pelo imediatismo. Uma pena. Sinto falta da esperança que eu reservava para o amanhã.
Sempre deixava para amanhã o que hoje seria uma bobagem fazer e, agora, não há mais esse tempo. Julgava que amanhã poderia esperar um melhor salário, um grande amor, a viagem dos sonhos... fora (claro) os políticos honestos, um Brasil melhor. Agora, queremos o sol, porém rezamos para que ele não derreta mais nada, enquanto ficamos embaixo de uma sombra qualquer.
A esperança morreu? O que aconteceu com os jovens? A geração passada lutou contra ditadura. A minha pintou a cara e saiu nas ruas. A nova reelegeu o mesmo cara que tiramos do poder e nada consegue fazer contra sarneys da vida e todos os seus genros (seja lá quantos aparecerem). Não os culpo. Afinal, se o amanhã não existe, pra que se abalar? Vamos todos nos preocupar com nossas próprias (e já complicadas) vidas.
O romantismo, idealismo e outros tantos ismos estão em baixa. Infelizmente, muitos deles ainda se explodem em algum lugar do mundo. Mas por aqui (no ocidente) não há muito o que fazer. Nos perdemos em nós mesmos. Apostamos nossas fichas em mudança, mas pouco se viu.
Não levanto bandeira política nenhuma. Aliás, se conseguisse, seria anarquista (mas uma força maior me faz votar). Zuenir me fez ver que a paixão de 68 tem muito a ver com a personalidade de toda uma geração. Uma paixão que hoje não existe pelo simples fato de que não cabe mais. Não faz mais parte do nosso repertório. Não está na nossa veia. Não tem mais cadência no nosso samba. Não tem censura. E, assim, o sonho do amanhã virou história. Virou livro. Somente isso.

*1968 - O que fizemos de Nós. Zuenir Ventura, Ed. Planeta.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Acredite

Será que o amor está fadado a tristeza? Amar é sofrer? No dicionário essas não são palavras sinônimas (definitivamente). Na teoria o amor deveria vir entre sorrisos, felicidade, mãos dadas, pé na areia no final do dia, olhares cúmplices e beijos. Muitos beijos.
Mas não é assim. Para muitos autores, a paixão vem (sempre) acompanhada de lágrimas. E, pior, o ser apaixonado parece até gostar do sentimento ruim. A depressão, o choro contido, a espera ingrata está em toda angústia de quem ama. Que horror!
De verdade, histórias como Tristão e Isolda ou mesmo Romeo e Julieta são lindas nos livros, no cinema, nos palcos. Na vida real, não queremos nada daquilo. Nem o final trágico (principalmente), nem a vida como mocinhos tristes, esperando em sacadas ou atormentados pela família. Não dá.
Escrever sobre o amor virou uma infinidade de palavras dolorosas, profundas e cheias de peso. Em todo romance que se preze a gente chora. Emoção (sim) tem relação com amor (claro), mas será que apenas (e somente) sofrimento?
O ceticismo nos deixou tão cegos e sóbrios, que nos tornou também burros. A idade tem feito com que tenhamos a péssima mania de não acreditar mais em finais felizes. Começamos histórias sabendo que vão terminar - até esperamos por isso a qualquer minuto. Sim, sei que já escrevi sobre o fatalismo do fim, mas será mesmo que devemos pensar sempre assim?
O otimismo não deveria estar embutido no discurso de quem ama? Afinal, existem casais que nasceram uns para os outros, não? Poucos, é verdade. Raros? Sem dúvida. Mas, existem. São casais que amam e dançam juntos há mais de 15, 30, 45 anos e não se imaginam sem sua cara metade.
Se conseguirmos tirar a pedra que carregamos em nossos pés ou as amarras que vez ou outra prendem nosso grito de fuga, conseguiremos também acreditar. Acreditar que o amor pode durar. Que pode se aperfeiçoar ao longo do tempo e fazer com que nossos corações rejuvenesçam, cresçam e aprendam outro tipo de beleza: a eternidade.

* Romance de Tristão e Isolda. Joseph Bedier, WMF Martins Fontes.