quinta-feira, 26 de março de 2009

Quem quer ser Woody Allen?

Você já se perguntou como faria para chegar à padaria da esquina? O ideal seria seguir em frente, certo? Depende. Se você pensar como Woody Allen, pode virar para o lado contrário e passar (antes) pela melhor livraria da cidade; pode ainda atravessar, pegar a outra rua para passar em frente a um café charmoso; ou desistir do pãozinho já que, afinal, está super atrasado para um compromisso que havia esquecido completamente.
Ele é assim. Precisou aprender a ler para ficar com mulheres. Precisou subir nos palcos para descobrir que sabia fazer rir. Precisou assistir Bergman para reconhecer que nunca chegaria ao existencialismo do cineasta sueco.
Será mesmo? Seus personagens são mais do que existenciais. São angustiados, atormentados e neuróticos, sempre. A diferença é que essa neurose dele (Woody) é descrita nos filmes com muito humor.
Falamos, aqui, do artista e não o homem (de personalidade duvidosa). O roteirista brilhante, o cineasta sensacional e o ator medíocre (no sentido literal da palavra). Suas histórias transformam atores em “aqueles que já trabalharam em um filme do Woody Allen” – quase um título. Quando o próprio está na tela, representa nada mais, nada menos do que ele mesmo.
Usa conflitos psicológicos como tema. Como uma mulher que quer casar, mas pretende manter seu apartamento de solteira como símbolo psicológico de sua independência (qualquer semelhança é mera coincidência). Segundo Sr. Allen é isso que “nos ajuda a entender as pessoas”. Foi assim que surgiu Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, em 1977. Genial.
Personagens falantes e problemáticos, que têm a insatisfação crônica como doença (Vicky Cristina Barcelona, 2008), simplesmente por acreditarem que podem (e devem) questionar tudo e todos.
Roteiros complexos vindos de uma cabeça perturbada. Woody Allen é mais ou menos como aquela antiga propaganda de bolacha. Genial por ser neurótico? Ou neurótico por ser genial?
Quem é que sabe? É brilhante e pronto. Já vale! Quer dizer... desde que não adote ninguém no meio do caminho (quanta maldade).

* Conversas com Woody Allen. Eric Lax. Editora Cosac Naify.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Woody Allen: muito bem lembrado. Este é um cineasta que sabe falar das nossas loucuras, medos, angústias e paixões. Assisti-lo é, sem dúvidas, buscar um diálogo com a nossa sociedade, do ponto de vista das relações interpessoais, principalmente. Pois, como compreender quem somos, se não colocarmos o outro em xeque? E os filmes dele sabem fazer isso, traz os conflitos dos relacionamentos e possibilitam nos entendermos.
    Gosto do Woody. Gostei do seu texto. Parabéns!

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