terça-feira, 2 de junho de 2009

Teatro Futebolístico

Em uma época não muito distante teve gente que viu o melhor do futebol nacional. Peço perdão aos não-santistas (apesar de achar uma pena), mas não há torcedor (de qualquer time) que tenha visto Pelé e passado impune por isso. A Vila (mais famosa do mundo) foi o palco desse teatro futebolístico. Lugar que fez com que muitas dessas pessoas mudassem a forma de ver o mundo (ou talvez de ver o futebol).
Uma dessas pessoas, inclusive, me mostrou, com orgulho, a folha de jornal velha em que há o registro da primeira bandeira hasteada na Vila Belmiro. Feita por ele e um amigo (na época, adolescentes), me contou que não precisaram de quase nada – só uma grande ideia - além do pano branco no quintal, tinta preta e amor pela camisa alvinegra. Outros tempos? Nem tanto.
Hoje, o glamour do futebol terminou – a não ser pelos grandiosos salários. Jogadores se enrolam entre a vida social, a bebida, a igreja e os campos. Enquanto, ontem, muitos trabalhavam em outros lugares pela dificuldade de se viver somente da bola (como me disse, certa vez, Gilmar dos Santos Neves), nada mais funciona assim.
Porém, tem uma coisa que nunca muda, porque está acima disso tudo: os torcedores. Esses sim intensos, fervorosos... talvez, um pouco mais briguentos (com o passar dos anos), mas com a mesma paixão (e sem ganhar nenhum milhão).
É a democracia da bola. O amor por ela. A falta de vergonha. O choro. O riso. Tudo no mesmo campo e na presença (cruel) de um adversário. Na carga pesada dos clássicos. Na angústia de saber que é preciso ganhar para passar. Ganhar para chegar lá... em Tóquio ou em Dubai (seja lá para onde se vai).
Times, hoje, ganham mais do que personagens. Ganham filmes, livros, histórias. Seja o Jabaquara (grandes espanhóis), o Santos, o Corinthians, o Grêmio ou tantos outros... Vale tudo para contar a luta, a batalha, a queda, a superação e o jogo.
Devo lembrar que nem todos eles tiveram Pelé (essa é uma sorte de poucos). Mas todos têm (até hoje) algo que só o futebol pode fazer: a mobilização da massa. A torcida está em todos os lugares. Campos, de frente a TV, ouvindo rádio ou a internet.
Nós (torcedores) estamos até onde nossa paixão nos permite ir. Até onde podemos gritar (atrocidades que me recuso a divulgar aqui), pagar, passar mal e xingar aqueles milionários pernas de pau!
E assim vivemos. Sem Pelé. Sem Garrincha. Sem Coutinho ou Tostão. Mas... cheios de histórias e títulos para contar e (quem sabe?) ainda chegar.

* Veneno Remédio: O futebol e o Brasil. José Miguel Wisnik. Cia. das Letras.

Um comentário:

  1. Grande livro do Wisnik, Juliana. Acho que vai virar um clássico, com platéia menor, mas um clássico, sem dúvida!

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