quarta-feira, 22 de abril de 2009

Pacto com a solidão

A velhice, nada mais é, do que um pacto solene com a solidão (ou algo assim), afirmou Gabriel Garcia Marquez em algum de seus personagens fantásticos. Não concordo. Acredito que somos solitários desde o momento que cortam nosso cordão umbilical. A partir dali a conexão (literal) com o “outro” termina. Porém, não deixa de ser uma bela frase.
A solidão é uma palavra pesada. De repente, tem uma carga desnecessária. Ninguém é solitário porque quer – parece. Será? A verdade (ao menos, a minha), é que todos nós somos solitários ao longo da vida. E, se nos esquecemos disso, talvez (talvez, repito) nunca encontremos a felicidade de estar junto com outro alguém.
Nossas resoluções, problemas, soluções e determinações são também solitárias. Pense bem. Não nos importam conselhos ou sugestões, pois faremos somente aquilo que quisermos e que nossa consciência permitir.
Pode-se pegar como exemplo Úrsula Iguarán. Viveu 100 e alguns anos lutando em prol da família e, principalmente, dos homens de sua família. Anos e anos carregando toda a responsabilidade de sua eterna solidão. Enquanto todos surtavam a sua volta, divagavam passando horas em laboratórios, ouvindo ciganos e tendo filhos; ela ganhou dinheiro, criou os filhos, criou os filhos dos filhos, os netos dos filhos. Úrsula foi 'só' desde sempre e foi feliz assim.
Acredito que é necessário aprender com a solidão. Ela pode ser a fórmula de sabedoria para as boas relações. Primeiro, é preciso se entender como indivíduo para, só então, reconhecer e aceitar o outro (quem quer que seja “o outro”).
Devemos nos reconhecer no espelho mental. Somente assim, sem nenhuma culpa, poderemos amarrar nossos maridos em árvores (quando loucos estiverem) ou ainda discutir com autoridades armadas sem medo de morrer.
A partir desse momento, podemos esperar pelo cortejo do nosso próprio enterro, sentados à porta de casa. Sozinhos (ou não). Mas, certamente, felizes.

* Cem Anos de Solidão. Gabriel Garcia Marquez. Ed. Record.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Guerra sem estratégia

Ela era linda, sexy e problemática. Ele era lindo, inteligente e egocêntrico (como tantos, eu diria). O que era diferente nesse relacionamento? Ele estava para virar o presidente do país mais importante do mundo. Ela seria a loira mais lembrada da história (durante todas as décadas que viriam a seguir).
Os dois, hoje mortos, viveram um romance tórrido e triste. Um Romeu e Julieta às avessas, em que intrigas, investigações e espionagem rondavam suas vidas.
Kennedy era um homem charmoso e poderoso demais para passar sem deixar marcas. Encantou tanto que acabou morto injustamente. Tinha uma mulher linda, mas nutria a paixão pela loira de saia rodada. Quem poderia culpá-lo?
Marilyn tinha problemas. Ninfomaníaca, usuária de drogas... nada de bom nisso. Mas era também uma mulher apaixonada, como tantas que conhecemos. Nesse quesito, ela vira uma mulher comum – tirando o fato de ter tido coragem suficiente para cantar “parabéns a você”, com voz rouca e sensual, ao presidente dos Estados Unidos.
Sua dedicação e amor por um homem que não lhe deu nada – ou quase nada – era infinita. Mas, assim como ela, as mulheres têm essa particularidade. Temos essa ânsia de querer mais, de achar que merecemos mais e, ao mesmo tempo, acreditarmos (piamente) que podemos nos moldar àqueles que amamos – ou tentar moldá-los (a pior opção). O fato é que lutamos com isso (e por isso).
Somos incansáveis lutadoras. Lutamos contra eles (ou seria a favor?) e contra nós mesmas. Numa tentativa inútil de provar que é possível ser feliz com o outro, mesmo que não seja perfeito. Afinal, quem é perfeito? Ninguém, certo? Então, por que não lutar?
Pensamento não muito esperto, eu diria. Porque, em geral, perdemos. A guerra, no amor, não é tão estratégica e esquemática como a guerra dos homens – com armas, ataques e tanques. A nossa guerra é sentimental e problemática – assim como Marilyn.
Podemos não ser tão sexys ou lindas como ela foi, mas somos bem parecidas. Buscamos ganhar essa guerra usando apenas uma tática: amor. Por conta disso, perdemos a inteligência, a praticidade (que é típica masculina, mas seria bom ter um pouco, não?). Perdemos a noção. Mas, tentamos. Isso, ninguém vai negar. Tentamos de todos os jeitos. Insistimos, suplicamos e amamos, incondicionalmente.
Marilyn amou. Errou. Perdeu. Mas, assim como todas as mulheres do mundo, ela – ao menos – tentou.

* Marilyn e JFK. François Forestier. Ed. Objetiva.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Adulto (com "a" maiúsculo)

“Por você, faria isso mil vezes”. Para quantas pessoas você diria essa frase? Para quantas ela seria, realmente, sincera e honesta? Pense bem.
Respondo por você: Ninguém. Ou, quase ninguém (sendo mais otimista). Amamos sim, claro (e graças a Deus, até). Mas, com tanta inocência – como a declarada na frase -, já não tenho tanta certeza. Quem pode nos culpar? Ultrapassamos a idade da pureza (inclusive de sentimentos). Somos Adultos (com “a” maiúsculo). Temos certeza de muitas coisas, mesmo sem saber de quase nada. E, por isso, nos esquecemos de alguns valores e sentimentos muito superiores.
Claro, há quem se lembre deles. Na verdade, se você se esforçar um pouquinho, vai lembrar também. Daquele amigo de todas as horas de bola, bicicleta ou boneca. Daqueles segredos da adolescência pra quem você confidenciou tantas coisas. Para ele, sim, você faria mil vezes a mesma coisa. Simplesmente porque, naquele momento da sua história, faria muito sentido.
Crescemos. As histórias mudam. Os amigos de infância (muitas vezes e infelizmente) são agora adoráveis lembranças. Ou, quando mais presentes (felizmente), passam a ter defeitos assim como nós (vejam só, quem diria?). Não, não somos perfeitos. Erramos muito. Mas, também nos arrependemos, e juramos tentar acertar em uma próxima.
É na vida adulta que descobrimos como o mundo é complicado. Analisamos valores e julgamos pessoas (muitas vezes mal). Sabemos que não existe inocência alguma nisso. Perdemos essa essência de aroma tão doce, para amargar em uma nova mistura, talvez mais cítrica e amadeirada.
Mas, existe um jeito (deve existir, espero). Um jeito de conseguir fazer com que o valor de uma amizade (entre pais, filhos, irmãos, namorados... amigos) ultrapasse essas barreiras e volte à inocência. E aí, sim, veremos que é possível fazer tudo por alguém. Quantas vezes forem necessárias. Nesse momento, seremos livres e belos como uma pipa colorida no céu azul.

*O Caçador de Pipas. Khaled Hosseini. Ediouro Publicações.